segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pois é, Bete

Saudades por aqui também. Ando fazendo algo que nem tu nem eu conseguiríamos imaginar dois meses atrás: acordar cedo e sair antes de tu chegar.

Mudei de emprego, mas ainda não dá para realizar o sonho de consumo de te ter por aqui com mais frequencia. Então vou aproveitar a tua vinda hoje pra curtir a casa arrumada e prometer, mais uma vez, que vou tentar manter as coisas pelo menos habitáveis até tu aparecer de novo.

Ah, acho que vamos conseguir nos mudar até o final do mês. Torce aí e enquanto isso vai dando uma olhada aqui nas fotos do nosso cantinho novo.

E boa viagem, depois me conta se o Rio de Janeiro continua lindo.

PS: ok, vou recolher as calças jeans do varal
PS2: comprei ontem uma camisa com umas pregas e me arrependi 2 minutos depois ao imaginar a tua reação ao ter que passá-la
PS3: sim, preciso que tu apareças antes do dia 25, sem falta! qualquer dia

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Desde que o samba é samba é assim

Detalhe da decoração do último aniversário

Não consigo precisar a data, mas a cena ocorreu há no mínimo 20 anos. Eu olhei pra ele e perguntei: "tio, o que é Comunismo"? E ele respondeu: "Você acha justo ter quatro bonecas e uma menina igual a você não ter nenhuma?"

Se não me fez empunhar foice e martelo, a pergunta marcou. E se hoje procuro no mínimo ser gentil com os outros, é um pouco por influência do Tio Josino, uma espécie de padrinho emprestado, parente que a vida escolheu.

E escolheu mesmo. A história que me contaram é mais ou menos assim. Estavam meu pai e minha mãe sentados na varanda em Osório, no início da década de 70, quando passou um carro de forasteiro. Minha mãe deu um berro e abanou. O carro parou. Desceu um casal de cariocas recém-chegados do Rio. A amizade que começou ali durou a vida toda.

O Tio Josino tinha um Dodge. E uma enciclopédia em fascículos que me fazia salivar. E um painel de paisagem que ocupava uma parede inteira na sala de casa. E uma cama com botão que fazia baixar e levantar. E um chuveiro no lugar da torneira da cozinha. Entre a cozinha e a sala, um passa-pratos, modernidade em um período pré-invasão das cozinhas americanas. Eu achava tudo o máximo.

Uma época, quando era representante da TecToy, liberava os videogames para que eu e meus irmãos testássemos antes de todo mundo. Dias de glória.

Tio Josino ficou fascinado quando optei pelo Jornalismo e inconformado quando fui parar na Zero Hora. Há uns 15 dias, me ligou faceiro ao saber que eu tinha mudado de emprego. Preferi não explicar que agora eu era quase publicitária.

Durante uma das batalhas contra a doença que o levou na semana passada, ele recebeu a visita de um padre quando estava na cama da UTI.

"O que o senhor é?", perguntou o religioso.
(católico? evangélico? judeu?)
"Fluminense", respondeu.

Provocador, fã de uma boa briga, cabeça-dura? O que fica dele pra mim é a capacidade de viver (e reinventar) a vida e de formar uma família de grandes seres humanos. E a lembrança de que quando a vida escolhe uma amizade assim, a gente berra, abana e cuida pra sempre.